sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Introdução



Almiro Rodrigues - Laydiane Ribeiro - Tereza Cristina - Viviany Viana - Wellington Amaral
 
O desejo do conhecimento do mundo do surdo é, constantemente, um sentimento que seduz a nós ouvintes, desconhecedores do sistema que compõe a linguagem dos portadores de deficiência auditiva. Por este motivo  nós acadêmicos do 4º período de Letras, da Faculdade São Luís de França, motivados pela proposta da professora Vilma Mota Quintela, ministrante da disciplina Identidades Culturais na Pós-Modernidade, que nos despertou quanto aos questionamentos de quem é o surdo, a comunidade surda, o povo surdo, e aliado a isto, o que querem, quais as suas pretensões, o que desejam profissionalmente.
Desconhecedores do mundo do surdo, iniciamos a nossa pesquisa e esbarramos na primeira dificuldade que a maioria de nós ouvintes encontra em qualquer outra situação que envolva este público, a comunicação com o surdo, atividade que se torna possível e efetiva apenas com o domínio da Língua Brasileira de Sinais, circunstância em que visualizamos o quanto somos inoperantes neste contexto.
Vencida a primeira barreira, com o apoio da acadêmica do Curso de Licenciatura em Física da Universidade Federal de Sergipe, Priscilla Aragão, que nos iluminou no tocante à comunicação com os surdos, objeto da nossa pesquisa, iniciamos de fato a nossa missão de visualizar qual a identidade pós-moderna do surdo inserido no mundo da educação, da cultura ou do mercado de trabalho, e vislumbramos um quadro que apesar de evoluído ainda encontra-se eivado de discriminação e preconceitos que ao invés de inserirem definitivamente o surdo no mundo cultural, social e laboral do ouvinte, ainda o exclui deste contexto.
Além da barreira da linguagem ainda enfrentamos em nossa pesquisa alguns outros obstáculos para a conclusão e exposição do resultado final deste trabalho, que esperamos tornar uma ferramenta que sirva para iluminar o caminho daqueles que como nós buscam um esclarecimento maior no que se refere ao mundo do surdo, a sua identidade, a sua educação e ao mercado de trabalho em que ele quer ser inserido, fazendo um paralelo com a imagem que ele mesmo tem de si e de nós, público ouvinte.
Porém não só com as dificuldades e com os elementos que não favoreceram a pesquisa convivemos, momentos de extremo esclarecimento em relação a quem é o surdo e ao que ele quer como ser identitários nos foram revelados, demonstrando-nos que, verdadeiramente, ao contrário do que a maioria do ouvintes pensa, o surdo sabe quem é, sabe o que quer e sabe em que espaços sociais pode e quer ser inserido, mais ainda, demonstrando que tem qualidade para desempenhar funções nestes espaços.
Diante da pesquisa ficam para nós duas impressões muito fortes, na primeira  visualizamos que o surdo conquistou sua identidade como ser humano, capaz e competente, incluindo-se cada vez mais, e definitivamente, nos espaços e atividades que os ouvintes nunca pensavam que eles estivessem inseridos. Finalmente na segunda impressão fica claro que nós, os ditos, considerados e autodenominados normais, temos na verdade, como eles, uma deficiência, pois se o não compreendemos é pelo desconhecimento da sua linguagem, do seu mundo, da sua cultura. Para tanto, como sugestão, opinamos para que cada um de nós, principalmente os que desejam enredar no mundo da educação, disponibilizem tempo para a apreensão da Língua Brasileira de Sinais que é a pedra fundamental na nossa caminhada rumo ao mundo do povo surdo, tornando-nos comunidade surda.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Justificativa

Este blog é uma reflexão sobre a condição profissional do surdo inserido no mercado de trabalho. Muitas vezes, por desconhecermos a realidade do que é ser surdo criamos conceitos equivocados sobre esta deficiência, porém ser surdo é possuir uma linguagem, uma comunidade unida e organizada, e principalmente deter as mesmas condições cognitivas dos ouvintes, o que significa que a surdez não impede que estes sujeitos possam atuar na sociedade, inclusive se inserindo no mercado de trabalho.

Objetivo


Profa. Geórgia Brandão


O objetivo da criação deste espaço foi evidenciar a relação dos surdos com o mercado de trabalho, através da visão de colaboradores que forneceram material bastante substancial para que pudéssemos visualizar as barreiras transpostas pelos surdos visando a sua inserção no setor, avaliando com que qualidade o surdo desempenha atividades laborais e ainda qual a relação surdo/ouvinte neste contexto. Dentre os colaboradores queremos destacar a disponibilidade dos surdos Joselito Santos Silva e Gláucia Aragão do Sacramento e da intérprete adhoc Priscilla Aragão Menezes, ainda da Profa. Geórgia Brandão que revelaram páginas importantes das suas vidas colaborando com o engradecimento das nossas.
Gláucia e Priscilla

A identidade do surdo na história


A história do surdo ao longo dos tempos é um misto de sofrimento e raros momentos de paz, isto porque desde os tempos mais remotos a imagem do surdo ora era associada a seres divinos, ora a seres repugnantes e dos quais tanto a sociedade quanto os seus próprios familiares deveriam se afastar, desprezando-os e por vezes até sacrificando-os. Quando saem da Idade Média, na qual eram tratados como intermediadores dos deuses, sendo temidos e respeitados por todos, os surdos iniciam um calvário bastante doloroso, uma vez que a história nos revela feitos horrendos em relação ao povo surdo.  Na Antiguidade chineses lançavam-nos ao mar, sendo sacrificados também pelos gauleses, pelo espartanos, e muitos outros povos que acreditavam que os surdos eram desprovidos de raciocínio e de alma, fato que era corroborado pelos pensamentos da Igreja da época que dizia que serem eles seres sem espírito, portanto tratados como animais e desprezados.
Na Grécia antiga estes mesmos personagens foram privados de serem submetidos à educação, ou a qualquer outro direito básico do qual gozavam todos os demais cidadão. Até Aristóteles pregava que os indivíduos que nasciam surdos eram incapazes de aprender pelo simples fato de não possuírem uma linguagem.
Em 360 a.C., porém Sócrates, declarou que era aceitável que os Surdos se comunicassem com as mãos e com o corpo.
Séneca, confirmando o pensamento dominante da época afirmou:

Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”

Na Roma antiga as ideias não eram diferentes da Grécia, uma vez que sofriam as influências do que pensavam os romanos e a prática do sacrifíco de crianças surdas era constantemente visualizada no rio Tibre, havendo também registros de reis que decreteram que os surdos, por serem seres imperfeitos não tinha direito a posses, heranças ou qualquer outro tipo de direito financeiro ou material.
Considerado por muitos como o primeiro educador de surdos, John Beverley, em 700 d.C., ensinou um deles a falar, pela primeira vez - em que há registo.
Iniciada a Idade Moderna houve uma mudança no que se pensava a respeito do surdo como ser e alguns importantes teóricos como Pedro Ponce de León, que fundou a primeira escola e ensinou filhos surdos de nobres a se comunicarem oralmente, tendo apra isto criado um alfabeto manual. Juan Pablo Bonet que inspirado pelo trabalho de de León escreveu um manual para ensinar os surdos a ler e falar através daquele mesmo alfabeto manual. Outras contribuições foram dadas por John Bulwer, John Wallis (1616-1703), George Dalgarno, Konrah Amman, Charles Michel de L'Épée, Jacob Rodrigues Pereira, Thomas Braidwood, Samuel Heinicke, Roch-Ambroise Cucurron Sicard, Jean Itard, Jean Massieu, Thomas Hopkins Gallaudet e seu filho Edward Miner Gallaudet, Alexander Graham Bell e Hellen Keller, dentre outros personagens da história da educação do surdo que como abelhas construíram uma colmeia na qual cada favo de mel se uniu dando forma a uma colônia que produziu um mel que serviu a uma rainha, no caso dos surdos, a uma um pouco incompleta.
No meio de tantas tentativas de consolidação de um modelo de educação para surdos eis que no Congresso de Milão surgem duas vertentes para esta educação, uma que consolidava a oralidade e a outra o gestualismo, esta tendo o apoio da grande maioria dos surdos. No Congresso de Veneza e de Milão também foram debatidas as duas vertentes, havendo em um a imposição da oralidade e no outro a extinção do gestualismo, tornando-se obrigatório o uso da língua falada pelo surdos.
Finalmente, após a sucessão de outros acontecimentos históricos o debate chegou aos nossos dias e um ponto pacífico quanto ao método mais adequado à prática educativa para o surdo foi consolidado, impondo a necessidade tanto da comunidade e quanto do povo surdo se somarem rumo à um método educativo pautado nos sinais, ou seja, no gesto-visual, porém seguindo critérios e convenções que ajudam tanto o surdo a incluir-se no mundo dos ouvintes quanto estes a inserirem-se no mundo daqueles, e daí a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, aqui no Brasil, torna-se uma ferramenta cada vez mais importante no que se refere tanto à educação do surdo quanto do desvendamento do mundo deste pelo ouvinte, criando-se assim uma relação de aprendizagem recíproca.

Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Divisor de águas na vida do surdo


Libras é a sigla pronunciada nacionalmente para Língua Brasileira de Sinais difundida pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS). Língua de Sinais é a língua natural, materna, primeira língua dos surdos e é usada pela maioria deles no Brasil. A força da Língua Brasileira de Sinais, suas características e componentes fazem dela um poderoso instrumento linguístico que permite ao individuo surdo ser amplamente beneficiado com todo o conhecimento humano, inclusive com a aquisição de uma segunda língua, mesmo sendo ela oral ou escrita. Ao contrário do que muitos imaginam a Língua de Sinais não se constitui simplesmente de mímicas e gestos soltos, utilizados pelo surdo para facilitar a comunicação. É uma língua com estruturas gramaticais próprias, contendo particularidades idiomáticas e variações regionais, que se assemelham ao sotaque ou às gírias da língua portuguesa, que são próprias de cada região no Brasil. Em cada país do mundo fala-se uma língua de sinais diferentes.
A LIBRAS é um idioma gestual-visual principalmente focado na memória fotográfica, na construção de imagens no cérebro e no relacionamento entre si desses elementos visuais. Sem sombra de dúvida, um bom aspecto que fortalece o relacionamento humano é a boa e clara comunicação. Problemas, divergências, mal-entendidos sempre podem ser resolvidos por meio de diálogo. No caso dos surdos, isso se torna um verdadeiro desafio, não por culpa deles, mas, quase sempre, por ainda desconhecerem o seu próprio idioma – a Libras.
O endereço http://www.acessobrasil.org.br/libras/ disponibiliza aos   que queiram enredar nos caminhos do mundo do surdo o Dicionário da Língua Brasileira de Sinais, com informações e vídeos bastante substanciais.

Cultura Surda


                    O conceito de cultura, às vezes é usado para assinalar as “melhores” ou “superiores” produções criativas de uma sociedade, tais como a sua arte, música e literatura. Uma das melhores definições de cultura, vinda do século XIX, diz ser ela todo aquele complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem, como membro da sociedade. (Tylor, 1871, pág.1). A cultura é adquirida socialmente e assim, a língua é uma parte essencial do desenvolvimento cultural.

Frequentemente, a língua é uma das feições diferenciadoras mais importantes de um subgrupo, dentro de uma sociedade, ela pode servir como fator de coesão, fonte de definição de orgulho e identificação positiva e, simultaneamente, um foco de estigma e escárnio por parte dos integrantes da cultura da maioria. (Meadow, 1975, pág.17).

As pessoas surdas vêm o mundo de maneira diferente, em alguns aspectos, porque suas vidas são diferentes. As crianças vão amadurecendo, elas não encontram modelos satisfatórios dentro de sua família. A situação do grupo minoritário, no qual se encontram, é incomum. Podem ser privadas de certas oportunidades linguísticas e culturais, porque seu status como grupo minoritário é pouco claro para a maioria das pessoas. Isso pode resultar em mais desvantagens do que a surdez em si. As necessidades das pessoas surdas têm grandes probabilidades de serem desconsideradas, porque aqueles que tomam decisões por elas só têm conhecimento de segunda mão sobre o que significa ser surdo. Há mais motivos óbvios para a existência da cultura surda. As pessoas surdas podem, em geral, apreciar a companhia uns dos outros, já que a comunicação não é problema, e por causa das experiências de vida compartilhadas. Organizações de surdos incluem centenas de clubes, acontecimentos esportivos - inclusive jogos internacionais - suas próprias companhias de seguro e grupos de dança e teatro profissionais. Isso não existiria se não estivesse indo ao encontro de uma necessidade real.

É necessário garantir aos educadores, pais e crianças surdas que o fato mais importante de todos concernentes ao grupo minoritário dos surdos é: uma pessoa  deficiente é igual à todas as outras; seu ponto de vista com  relação à sua deficiência fundamentalmente não é diferente da maioria... Precisamos esperar e lutar pelo dia que não haverá qualquer sub-cultura dos surdos... qualquer coisa menor que o empenho à integração numa sociedade ouvinte é um objetivo inaceitável para os pais de crianças surdas. (Connor, 1972, págs. 524-525, ênfase acrescentada.)

Legislação relacionada ao surdo.


A lei federal 8213/91 fixa a obrigatoriedade de reserva de vagas para deficientes observando os seguintes percentuais: empresas que têm entre 101 e 200 empregados 2%; de 201 a 500 3%; de 501 a 1000 4% e acima de 1000 5%. Essas vagas são para pessoas com deficiência, porém habilitadas. Mas as empresas esquecem esse programa e as pessoas não reclamam seus direitos. Mas há criticas sobre isso. Diz-se que os deficientes são tratados de forma assistencialista e que essa reserva de vagas fere o princípio da igualdade. Mesmo com a existência de leis, a inclusão dos deficientes no mercado de trabalho ainda é um desafio; além do preconceito, os empregados queixam-se da faltada mão-de-obra qualificada. Na escola, os deficientes têm muitas dificuldades, como colegas que não compreendem suas limitações ou conscientemente zombam. Poucos completam o 2º grau, uma dificuldade a mais para entrada no mercado. Diante deste contexto, fica evidente a necessidade de uma mudança de mentalidade de empregados e empregadores.
A capacitação profissional da pessoa surda é um desafio para as escolas repensarem suas finalidades, seu currículo, suas formas de atuação. É  um direito da comunidade surda se fazer  presente nas discussões das políticas sociais. A realidade dos deficientes auditivos em Sergipe no mercado de trabalho nos revela por um lado a falta de preparo das empresas em recebê-los e por outro a ausência de qualificação profissional de quem tanto deseja ser inserido. É preciso olhar para o surdo como uma pessoa capaz, repleta de possibilidades e como um cidadão que  pode produzir e ser aceito em todos os meios sociais, sejam eles empresas, escolas, cinemas ou qualquer outro no qual a convivência e a interação com o público ouvinte seja necessária e possível. É importante que o surdo adquira a sua independência econômica e sinta-se produtivo dentro da comunidade.
Para que possamos visualizar o que há de concreto no concernente à legislação e qual a colaboração que está literatura traz para a comunidade surda elencaremos algumas leis que versam sobre este contexto.
No que se refere aos deficientes auditivos as leis federais prevêem alguns benefícios para este público, dentre eles podemos destacar o constante na Lei nº 8.160 – 1991, que dispõe sobre a afixação de símbolo que permite a identificação de pessoas com deficiência auditiva, explicitando tal ato no artigo 1º que expõe:

“É obrigatória a colocação, de forma visível do "Símbolo Internacional de Surdez" em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por todas as pessoas com deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos a sua disposição ou que possibilite o seu uso".
    
Há ainda outras leis relacionadas ao surdo e ao deficiente auditivo que devem ser destacadas, a exemplo da Lei nº 1.224 - 1987 – que assegura ao deficiente físico o direito a inscrição e participação em concursos públicos; a Lei nº 1.479 - 1989 – que autoriza o poder executivo a criar o programa deficiente físico – empresa; a Lei nº 2.883 – 1998 -  que autoriza o poder executivo a criar a carreira de intérprete para deficientes auditivos; a Lei nº 10.436 – que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS; alguns Projetos de Lei como o 4.409-A – 2001, do Sr. Júlio Semeghini que visa instituir o dia nacional do deficiente auditivo e do surdo, sempre comemorado no último domingo do mês de setembro de cada ano; e em Aracaju o projeto do senador Antônio Carlos Valadares que visa incluir os deficientes auditivos no direito a inserção do IPI na hora de adquirir um bem automotivo, foi aprovado na comissão de assuntos econômicos do senado (CAE).

Conclusão



A identidade do surdo sofreu muitas mudanças até que a própria sociedade o aceitasse como ser digno e capaz, portador de capacidades e competências se não iguais às nossas, certamente comparáveis a estas, prova disto é que, mesmo com a existência de um preconceito formado pela comunidade ouvinte, na sua grande maioria, de que o surdo é um ser incapaz de estudar, trabalhar e realizar ou inserir-se em atividades consideradas de uso exclusivo dos ouvintes, eles procuram cada vez mais mostrar sua cara, inserir-se no mercado de trabalho e frequentar os bancos acadêmicos e estudantis, dando forma a um futuro no qual o preconceito e a discriminação ficam cada vez mais de lado, porém com muitos outros obstáculos a serem vencidos. Visualizamos na pesquisa de campo que o surdo se insere no mercado de trabalho objetivando uma oportunidade de demonstrar capacidades que ele possui, porém que por vezes o é negado o exercício destas, uma vez que geralmente são disponibilizadas vagas de emprego nas quais o surdo exerce pouca ou quase nenhuma atividade mais complexa, sobrando a eles, excetuada qualquer discriminação funcional, empacotar produtos ou dobrar roupas em estabelecimentos comerciais.
Numa outra vertente da pesquisa de campo vislumbramos o importante papel, por vezes mal exercido, da família quanto ao estímulo e à participação da vida social, cultural, educacional e laboral do surdo. É da família que o surdo espera o maior apoio para estudar e trabalhar. A estudante do 2° ano do ensino médio no IPAESE Gláucia Aragão do Sacramento, de 24 anos, surda, ex-funcionária da C&A, revela-nos uma realidade que não é só a sua, mas de muitos outros colegas surdos, quando expõe as dificuldades de aprendizagem da Língua Portuguesa, da Matemática e da Informática, aliando a elas a disponibilidade de tempo e o domínio precário da Língua Brasileira de Sinais pelos componentes familiares. Gláucia nos esclareceu, interpretada pela sobrinha Priscilla Aragão Menezes, 20 anos, acadêmica do 6° período do Curso de Licenciatura em Física na Universidade Federal de Sergipe – UFS, que apesar de muitas dificuldades de aprendizagem ela, como surda, tem muita vontade de alcançar suas metas, exercendo a docência para aqueles que como ela sofrem com uma deficiência que restringe o mundo da educação em alguns momentos, porém que não deve ser encarada como uma barreira intransponível, o que nos leva a visualizar uma barreira que também é da família do surdo e que deve ser, portanto, transposta com a ajuda de pais, tios, sobrinhos enfim de todos aqueles que possam se engajar na ação.
A própria Priscila, que demonstra um domínio excepcional da LIBRAS, admite que ensinar ao surdo Língua Portuguesa, Informática e principalmente disciplinas da área das ciências exatas é algo muito complexo, demandando bastante paciência e dedicação por parte da família, que por sua vez necessita ausentar-se do lar por longos períodos em virtude de trabalho, estudo e outras atividades desempenhadas por cada um, deixando o surdo sem orientação da família para as atividades educacionais.
Tudo que foi exposto até agora no tocante à pesquisa de campo foi ratificado pelo surdo Joselito Santos Silva, de 26 anos, tendo estudado até o 6° ano Ensino Fundamental, na Escola 11 de agosto, desempenhando atualmente atividades trabalhistas numa empresa de produtos elétricos. Ele nos relatou sobre as condutas discriminatórias de alguns colegas da empresa que por vezes o enxergam como incapaz de aprender determinadas atividades e acabam se surpreendendo quando percebem que ele mesmo sem orientação de ninguém, apenas observando consegue adiantar-se a algum treinamento e desempenha aquela atividade que os colegas deixaram de orientá-lo.
Por fim a pesquisa de campo nos deu a visão de que, apesar das transformações quanto à identidade pós-moderna do surdo como ser humano digno e capaz, ainda há algumas arestas a serem cortadas. Assim, a conscientização de que realmente o surdo tem possibilidade de desempenhar funções laborais mais complexas; a preparação da família no tocante ao seu papel de orientadores do surdo nas atividades complementares de ensino e trabalho, inclusive com a aprendizagem de LIBRAS por parte dos familiares; políticas públicas mais eficientes, que incentivem o surdo ao trabalho e ao estudo; políticas empresarias de incentivo aos ouvintes na aprendizagem das LIBRAS; tudo deve ser repensado se queremos construir uma comunidade, seja ela surda ou ouvinte, mais igualitária e realmente democrática para todos nós que devemos e podemos nos comunicar e ajudar, mesmo diante de qualquer deficiência.

Referências

GODINHO, Eloysa. Surdez e significado social. São Paulo. Cortez. 1982.
EDLER CARVALHO, Rosita. A Nova LDB e a educação especial. Rio de Janeiro. WVA. 1997.
REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. O deficiente auditivo e o mercado de trabalho. Teste de mestrado. São Paulo. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 1990.
WALLIN, Lars. O efeito da língua de sinais na sociedade, Revista Espaço. Rio de Janeiro, Ines. Ano II. n° 3. agosto a dezembro de 1992.