quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A identidade do surdo na história


A história do surdo ao longo dos tempos é um misto de sofrimento e raros momentos de paz, isto porque desde os tempos mais remotos a imagem do surdo ora era associada a seres divinos, ora a seres repugnantes e dos quais tanto a sociedade quanto os seus próprios familiares deveriam se afastar, desprezando-os e por vezes até sacrificando-os. Quando saem da Idade Média, na qual eram tratados como intermediadores dos deuses, sendo temidos e respeitados por todos, os surdos iniciam um calvário bastante doloroso, uma vez que a história nos revela feitos horrendos em relação ao povo surdo.  Na Antiguidade chineses lançavam-nos ao mar, sendo sacrificados também pelos gauleses, pelo espartanos, e muitos outros povos que acreditavam que os surdos eram desprovidos de raciocínio e de alma, fato que era corroborado pelos pensamentos da Igreja da época que dizia que serem eles seres sem espírito, portanto tratados como animais e desprezados.
Na Grécia antiga estes mesmos personagens foram privados de serem submetidos à educação, ou a qualquer outro direito básico do qual gozavam todos os demais cidadão. Até Aristóteles pregava que os indivíduos que nasciam surdos eram incapazes de aprender pelo simples fato de não possuírem uma linguagem.
Em 360 a.C., porém Sócrates, declarou que era aceitável que os Surdos se comunicassem com as mãos e com o corpo.
Séneca, confirmando o pensamento dominante da época afirmou:

Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”

Na Roma antiga as ideias não eram diferentes da Grécia, uma vez que sofriam as influências do que pensavam os romanos e a prática do sacrifíco de crianças surdas era constantemente visualizada no rio Tibre, havendo também registros de reis que decreteram que os surdos, por serem seres imperfeitos não tinha direito a posses, heranças ou qualquer outro tipo de direito financeiro ou material.
Considerado por muitos como o primeiro educador de surdos, John Beverley, em 700 d.C., ensinou um deles a falar, pela primeira vez - em que há registo.
Iniciada a Idade Moderna houve uma mudança no que se pensava a respeito do surdo como ser e alguns importantes teóricos como Pedro Ponce de León, que fundou a primeira escola e ensinou filhos surdos de nobres a se comunicarem oralmente, tendo apra isto criado um alfabeto manual. Juan Pablo Bonet que inspirado pelo trabalho de de León escreveu um manual para ensinar os surdos a ler e falar através daquele mesmo alfabeto manual. Outras contribuições foram dadas por John Bulwer, John Wallis (1616-1703), George Dalgarno, Konrah Amman, Charles Michel de L'Épée, Jacob Rodrigues Pereira, Thomas Braidwood, Samuel Heinicke, Roch-Ambroise Cucurron Sicard, Jean Itard, Jean Massieu, Thomas Hopkins Gallaudet e seu filho Edward Miner Gallaudet, Alexander Graham Bell e Hellen Keller, dentre outros personagens da história da educação do surdo que como abelhas construíram uma colmeia na qual cada favo de mel se uniu dando forma a uma colônia que produziu um mel que serviu a uma rainha, no caso dos surdos, a uma um pouco incompleta.
No meio de tantas tentativas de consolidação de um modelo de educação para surdos eis que no Congresso de Milão surgem duas vertentes para esta educação, uma que consolidava a oralidade e a outra o gestualismo, esta tendo o apoio da grande maioria dos surdos. No Congresso de Veneza e de Milão também foram debatidas as duas vertentes, havendo em um a imposição da oralidade e no outro a extinção do gestualismo, tornando-se obrigatório o uso da língua falada pelo surdos.
Finalmente, após a sucessão de outros acontecimentos históricos o debate chegou aos nossos dias e um ponto pacífico quanto ao método mais adequado à prática educativa para o surdo foi consolidado, impondo a necessidade tanto da comunidade e quanto do povo surdo se somarem rumo à um método educativo pautado nos sinais, ou seja, no gesto-visual, porém seguindo critérios e convenções que ajudam tanto o surdo a incluir-se no mundo dos ouvintes quanto estes a inserirem-se no mundo daqueles, e daí a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, aqui no Brasil, torna-se uma ferramenta cada vez mais importante no que se refere tanto à educação do surdo quanto do desvendamento do mundo deste pelo ouvinte, criando-se assim uma relação de aprendizagem recíproca.

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